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sábado, 27 de março de 2010

Nota de Condolências.



Hare krsna! Dandavats e Pranamas , queridos devotos

É com imenso pesar que toda a comunidade Vaishinava mundial recebe a pouco a notícia
de Sua Santidade Srila Bhakti Sundar Govinda Deva-Goswami Maharaj
na presensa de seus sannyasis cantado baixinho partiu para a morada transcendental de Sri
Sri Krsna e seus associados eternos...

Por volta de 4h e 30m de 27 de março de 2010 em
Dum Dum Parch Temple na cidade de Kolkata-India.

Logo após seu corpo santo foi levado diante das deidades da Sri Caitanya Saraswati Math e foram oferecida muitas flores,guirlandas, Kirtanas e orações...

Formou-se um comboio que se dirigiu a Navadwip Dhama para colocalo em Samadhi esta tarde.

Srila Bhakti Sundar Govinda Deva-Goswami Maharaj Ki Jaya !!!

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Today Srila Bhakti Sundar Govinda Dev-Goswami Maharaj passed away from our vision


At about 4:30am today, 27 March 2010, Srila Bhakti Sundar Govinda Dev-Goswami Maharaj passed away from our vision by his own sweet will and surrounded by sannyasis and servitors chanting softly. His holy form was presently taken with a convoy of vehicles from our Dum Dum Park Temple, Kolkata, to Nabadwip where this afternoon he will be given samadhi close to the Samadhi Mandir of his beloved Srila Guru Maharaj, Srila Bhakti Raksak Sridhar Dev-Goswami Maharaj.

2pm Nabadwip: Srila Gurudev's holy body was brought before the Deities here at Sri Chaitanya Saraswat Math. Accompanied by continuous kirttan, devotees garlanded His Divine Grace and offered flowers and prayers. Bathing took place just now on the plinth of the 'Temple of Union in Separation' where chanting continues.

Live online BlogTV broadcasts are taking place throughout the afternoon:
TVDarshan broadcast by Anukrishna Devi dasi of Russia
and vaisnavadarshan_tv broadcast by Nimai Chandra Prabhu.

Source: Sri Chaitanya Saraswat Math

Sobre o Dia do Atentado de 11 de Setembro

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Sobre o Dia do Atentado de 11 de Setembro

Por Sua Divina Graça Srila Bhakti Sundar Govinda
Dev-Goswami Maharaj

O que posso dizer hoje? Não sei. Ocorreu um grande desastre na América do Norte, e as pessoas no mundo inteiro sofrem por causa disso.

Sabemos que o ser humano é mortal, que tudo vem e vai. Quando nascemos, a morte também já vem atrás de nós. Mas ninguém pode convidar a morte dessa forma. A morte desagradável teve lugar. Não podemos tolerar isso, mas não tem outro jeito; isto é Kali-yuga, onde qualquer irreligião se torna poderosa. É verdade que toda religião nos ensina a não matar. Mas na medida em que Kali avança, tais atividades irreligiosas têm lugar. Sabemos que a morte virá um dia, mas a morte é inaceitável e é sempre muito dolorosa, apesar de inevitável.

Os shastras, as Escrituras, dizem que obtivemos este corpo que está próximo a nós, mas um dia esse corpo vai chegar ao ponto de ter de morrer. Guru Maharaj costumava citar um poema inglês: "A ostentação da nobreza, a pompa do poder, toda essa beleza, toda essa riqueza nunca dada, aguarda assim mesmo a hora inevitável: os caminhos da glória conduzem somente à sepultura". Assim é a situação deste mundo. Sabemos que vai acontecer e está acontecendo. Ficamos muito infelizes com essa situação mas a "hora inevitável" é assim mesmo.

Por isso, precisamos ficar atentos à imortalidade. E a imortalidade só existe dentro da Consciência de Krishna. As Escrituras dizem que não há outro dever a não ser pensar em Krishna, ouvir sobre Krishna. Obteremos morte ou felicidade, qualquer coisa. Pois, ainda que aqui tudo é natural, é muito temporário. Esta vida é incerta; não sabemos quando morreremos. Todo mundo está muito feliz com seu corpo, mas em um segundo, ele pode acabar. Tal é a nossa situação. Portanto, não dependeremos dessa situação material. Tentaremos buscar por Sri Krishna e pela imortalidade. Se conseguirmos essa conexão transcendental, não ficaremos perturbados diante de nenhuma circunstância. É muito claro para nós que um dia a morte chegará; eu não sei qual dia será esse. Sendo assim, devemos tentar obter uma solução imediata, e a solução está em conectar-se ao mundo transcendental.

De qualquer forma, ficaremos felizes com isso. Passamos por tantos nascimentos e tantas mortes anteriormente. Passamos por tantas espécies de vida devido a nosso karma, mas nesta vida tivemos a sorte de nascer num corpo humano. O corpo humano tem tantas boas qualidades e, se tentarmos, podemos nos realizar apropriadamente nele. Se tentarmos buscar por Sri Krishna, que é o reservatório de todos os relacionamentos belos, rasa, essa realização adequada nos concederá a imortalidade. Esse reino transcendental nos concederá a verdadeira felicidade.

Neste mundo material, podemos fazer qualquer coisa, mas para nós, isso é algo muito temporário. Esta situação atual é de cada vez mais provação, e essa provação se repetirá. Veremos tantos desastres como o caso atual (das torres gêmeas).

É por isso que, na medida do possível, devemos tomar cuidado com esta vida e tentar prosseguir no caminho transcendental. Esse caminho transcendental está presente nesta era na forma do maha-mantra Hare Krishna, sendo que é por seu intermédio que alcançamos a transcendência. Todos devem tentar aceitar o Santo Nome de Krishna e render-se a Krishna. Devemos tolerar qualquer circunstância que surja diante de nós. Não há outro caminho além da tolerância. Ficamos muitos tristes com essa situação mundial, mas nada podemos fazer, pois trata-se da Kali-yuga.

Nossas escrituras dizem:

harer nama harer nama, harer namaiva kevalam,
kalau nasty eva nasty eva, nasty eva gatir anyatha

"Nesta era de Kali, certamente não há outro processo de auto- realização a não ser o cantar dos nomes de Hari, não há outro meio, não há outro meio."

Assim, devemos tentar nos conectar com nossa vida eterna.

Meu inglês é fraco. O que posso dizer? Gostaria de poder dizer mais, mas mal consigo me expressar. Minha benevolência, minhas bênçãos e tudo de bom em favor de todos. Oro desse modo ao Senhor Krishna.

Jaya Srila Guru Maharaj!


fonte ;

http://www.scsmathbrasil.com.br/11desetembro.html


Atado pelo Afeto

Instruções Divinas de Nossos Mestres

Atado pelo Afeto

Por Sua Divina Graça Srila Bhakti Sundar Govinda
Dev-Goswami Maharaj


(Sua Divina Graça Srila Bhakti Sundar Govinda Dev-Goswami Maharaj reflete a respeito dos eventos que envolvem seus primeiros dias no Sri Chaitanya Saraswat Math aos pés de lótus de Seu Mestre Divino, Srila Bhakti Raksak Sridhar Dev-Goswami Maharaj. Ele contou a história 50 anos depois, aqui no Math, em Navadwip.)

Nasci na aldeia de Bamunpara, que era conhecida antigamente como Brahmanpara e a qual vocês visitaram recentemente. Estudei na escola do vilarejo e, mais tarde, fui à escola em Putsuri.

Naquela época, meu pai vendeu a propriedade de Bamunpara e comprou uma casa nova em Rangpur. Então, nos mudamos deste distrito para lá. Meu tio materno e sua família moravam em Rangpur. Eles eram muito ricos e convidaram meus pais a se estabelecer lá.

Era uma época em que a tensão política crescia até produzir a divisão inevitável entre a Índia e o Paquistão que acabou por acontecer em 1947. Quando meu pai morreu em Rangpur, minha família e eu retornamos à minha Bamunpara nativa.

Fiquei com a responsabilidade de suportar a família. Eu precisava receber algum treinamento em algum tipo de profissão. Portanto, fui para ser treinado em um pequeno hospital beneficente que combinava um dispensário e uma enfermaria. Não sei se ainda existe. Eram poucos médicos e enfermeiras —apenas um médico e uma enfermeira que davam atendimento, e eu.

Naquela época, existia uma lei não escrita de que, se você fosse treinado por um médico por cinco a dez anos, você era aceito como médico com todo direito de exercer a profissão. Por isso, eu ia diariamente a dois dispensários distantes dois quilômetros um do outro. Em cada um deles, eu abria o dispensário. Logo chegava alguém que fazia a limpeza e preparava o local para mais um dia de trabalho.

Depois que o médico chegava e começava a atender os pacientes, eu aproveitava a oportunidade para ir jogar futebol. Essa era minha rotina diária. Depois disso, às vezes, eu retornava ao hospital e, outras vezes, voltava para a aldeia de Nadanghat onde ficava na casa de um poderoso zamindar, um grande latifundiário e, consequentemente, muito rico. Ele e sua família gostavam de mim.

Tenho sorte de que, por toda parte, as pessoas gostavam de mim. Nadanghat fica a 12 km de Navadwip e a cerca de 15 km de Bamunpara. à noite, depois de jogar bola, eu relaxava com meus amigos e jantávamos, o que quase sempre incluía channa (ricota frita) e sak (espinafre). Então, retornávamos à mansão daquele zamindar para ler. Naqueles dias, eu lia romances, e muitas vezes, à noite, acabava dormindo na biblioteca.

Atraído pelos sadhus

Certo dia, chegou um grupo de quatro ou cinco sadhus do Sri Chaitanya Saraswat Math. Eu os vi pela primeira vez às 19h30. Eles cantavam kirttans e depois davam uma palestra sobre o "Srimad-Bhagavatam". Eu me senti atraído a eles. Um dos sadhus parecia ser especialmente exaltado. Ele tinha traços corpóreos muito santos. Quando o vi dando uma palestra sobre o "Srimad-Bhagavatam", ele me lembrou Srinivas Acharya palestrando na assembleia do Rei Birhambir.

Eu já tinha lido muita literatura Vaishnava e estava familiarizado com a história do Rei Birhambir. Antes de se tornar um discípulo de Srinivas Acharya, ele fora o chefe dos dacoits (bandidos). Vocês ouviram a respeito desses eventos? De qualquer modo, ao apresentar o seu discurso, aquele sadhu exaltado parecia-se muito a Srinivas Acharya.

Muitas pessoas vieram ouvir a sua palestra, talvez uma centena de pessoas. Entre os presentes, estavam três ou quatro zamindares meus conhecidos, todos eles dacoits. Mesmo que fossem dacoits, eu os considerava como se fossem meus avôs. Eu constantemente fazia troça deles e os provocava, e, algumas vezes, até mesmo os castigava muito, e eles gostavam de mim por isso. De certo modo, eles gostavam que eu os castigasse.

Ao ouvir a palestra revolucionária belamente apresentada por esse brahmachari, eu fiquei muito impressionado. Não era igual às palestras costumeiras apresentadas pelos "goswamis" errantes e, depois de ouvi-la, me sentia muito atraído. Assim, no dia seguinte, retornei.

Desde pequeno, eu tocava o tambor mridanga, e era muito bom cantor, pois tinha algum talento. Quando cheguei, eles cantavam "Vande guroh sri charanaravindam". Pedi que me deixassem participar tocando a mridanga. Eles ficaram surpresos com meu pedido, pois eu era apenas um menino aldeão. Eles me deram a mridanga e, quando eu toquei, eles ficaram impressionados.

Naquela época, eu era um cantor profissional, mas essa é outra história. Meu pai era muito famoso como cantor profissional de canções Vaishnavas, kirttans, etc. naquele distrito e em outros. Aprendi dele muitas canções. Ele morreu quando eu tinha catorze anos. Poucos sabiam que meu pai, por ser um cantor profissional que liderava um grande grupo de sankirttan, tinha de ser pago para manter o grupo. Ele cobrava 200 a 250 rúpias, o que era muito dinheiro naquela época.

A tristeza de meu tio

Certo dia, encontrei meu tio sentado na varanda, chorando. Ele era muito forte fisicamente e um lutador do tipo de arte marcial que usa um bastão. Na verdade, ele era um famoso lutador com bastão, e era muito inusitado vê-lo naquele estado. Ao vê-lo desse modo, perguntei por que chorava. Ele me respondeu que meu pai havia sido convidado para cantar numa apresentação particular, mas quem fizera o convite não sabia que ele já havia partido deste mundo. Isso comoveu o coração de meu tio e provocou a sua tristeza.

Meu tio disse que a pessoa voltaria para conversar sobre o evento mas que ele não conhecia ninguém que pudesse cantar no lugar de meu pai. Eu disse que havia uma solução, e que ele podia aceitar o convite. Ele pareceu surpreso e me perguntou: "Mas quem cantará as canções?" E eu respondi: "Eu posso cantá-las."

Meu tio nunca me ouvira cantar e quis saber como eu aprendera essas canções, já que na época eu era muito jovem para ouvir canções sobre os passatempos da madhurya-rasa (passatempos de amor conjugal) de Sri Sri Radha-Krishna.

Meu pai não me permitia cantar esses kirttans, pois ele pensava que, por ser muito jovem, eu era desqualificado para isso. Eu sequer tinha permissão de ouvir canções de um nível tão elevado. Contudo, eu me sentia muito atraído a elas. Portanto, sempre que meu pai cantava, eu o seguia e me escondia num arrozal próximo, de onde era capaz de ouvi-lo cantar as canções. Às vezes, ele precisava de um mês inteiro para cumprir todos os convites que recebia num único vilarejo.

Eu estava muito apegado às canções sobre Radha-Krishna. Na época, minha memória era muito pura e eu era capaz de memorizar cada canção que ele cantava. Também, meu pai dava aulas diárias a alguns estudantes, enquanto eu fingia estar lendo a uma certa distância. Mas, ao invés de ler, eu ouvia o que meu pai ensinava. Desse modo, tornei-me qualificado.

Expliquei isso a meu tio. Ele estava muito surpreso e me levou à sua casa para que eu cantasse uma canção "pesada". Eu a cantei do começo ao fim, e ele chorou mais uma vez e me abraçou. Ele sabia agora que poderia aceitar o convite e dizer que: "Sim, meu irmão não está mais neste mundo, mas o filho dele satisfará o compromisso."

O compromisso ficava num vilarejo muito longe —cerca de uns 30 km. Foi assim que teve lugar o meu primeiro compromisso como cantor profissional. Depois disso, viajei a muitas aldeias e cantei muitas canções. Desse modo, fui capaz de ganhar mais experiência e conhecimento.

Minha primeira associação

Depois de ter visto e ouvido os sadhus cantando, eu me senti naturalmente atraído e me juntei a eles. Eles estavam muito satisfeitos comigo. Eles falaram um pouco de Harikatha e me perguntaram porque eu jogava futebol. "Ao invés disso, venha conosco e conversaremos com você."

Até esse momento, eu nunca tinha me misturado a sadhus, mas senti a força de seu afeto e fiquei muito apegado a eles. Assim, parei de jogar futebol e comecei a andar com esses devotos. Esse foi o começo de minha associação com os sadhus.

Eles começaram a me ensinar que este corpo não é nada, que a mente não é nada, que este mundo não é nada, que seu pai não é nada, que sua mãe não é nada — que tudo é nada, somente Krishna é a realidade, e tudo o mais é material e temporário. Um dia, você morrerá, e deve estar preparado para esse momento. Quando se nasce, a morte tem de acontecer. Depois da morte, o que você fará? Você não sabe quando a morte virá nem para onde você irá. Na próxima vida, seu pai e sua mãe podem ser um cachorro e uma cadela — você não sabe quem se tornará seu próximo pai e sua próxima mãe. Eles ficaram pregando desse jeito.

Por ser um menino, eu era muito simples de coração e acreditei em tudo que os sadhus me disseram. Eles exerceram tamanha influência sobre mim! Eu perguntei brincando se eles me levariam com eles. E eles disseram: "Sim, levaríamos você conosco, mas, e você... você viria conosco?" E eu respondi que sim!

Depois de ter prometido ao sadhu que, "Sim, eu irei com vocês", tentei evitar que me levassem. Mas eles estavam ansiosos de me levar com eles. Eles imediatamente aceitaram o que eu tinha dito a eles.

Depois de meu repentino "Sim" e de ter concordado em ir com eles, eu fiquei muito perturbado. Eu nunca tinha mentido em minha vida. às vezes, eu penso que minha única boa qualidade era que eu nunca mentia. Qualquer promessa que eu fizesse, eu tinha de mantê-la, e eu tinha feito uma promessa diante dos sadhus.

Pertencendo a uma família Vaisnava e tendo lido muitos livros Vaisnavas, eu estava muito consciente da história de Nityananda Prabhu. Seu pai, devido ao poder de uma promessa, tinha dado seu filho a Madhavendra Puri. Eu conhecia essa história mas, mesmo assim, tentei encontrar um meio de evitar ter de cumprir a promessa que fizera aos sadhus.

Considerei que me sentiria aliviado se os sadhus me dissessem que não era necessário ir com eles. Mas eles não disseram que "Não, não é preciso vir conosco". Pelo contrário, eles estavam sempre fazendo uma "lavagem cerebral" em mim.

Todo dia, eu me aproximava dos sadhus, e eles faziam mais "lavagem cerebral" em mim. Eu retornava ao dispensário e depois ao hospital e então chorava. Pensava: "Oh, como é que abandonarei tudo aqui? Mas prometi aos sadhus que iria com eles. Como posso evitá-lo?"

Considerei o assunto de várias maneiras, mas, ao chegar perto dos sadhus, eu recebia mais força no sentido contrário e pensava: "Sim, tenho de ir!" Mas cada vez que retornava ao hospital, tentava imaginar um meio de dar um jeito nessa dificuldade. Eu tinha muitos compromissos.

Plano para alívio

De qualquer modo, finalmente me decidi por um plano que me daria ao menos uma oportunidade de evitar ter de ir embora com os sadhus. Eu pensei que, se modificasse a minha promessa e dissesse a eles que, "Sim, irei com vocês se me levarem hoje mesmo, mas não em outro dia", então eles não seriam capazes de me levar, porque no dia seguinte estariam realizando um grande festival na aldeia. Desse modo, eu seria liberto de qualquer compromisso. Eu esperava que sua resposta fosse: "Levaremos você amanhã." Eu então diria: "Não, amanhã eu não posso ir, tem de ser hoje." Esse era meu plano.

Eu era muito simples assim e me aproximei dos sadhus com minha declaração. Quando disse a eles que só poderia ir se fosse hoje mesmo, sua resposta foi bastante inesperada para mim. Eles ficaram muito felizes com minhas palavras e disseram: "Muito bom. Hoje à noite mesmo levaremos você!" Então, naquela noite, eles me roubaram.

Roubado para Krishna

Eram 2 horas da madrugada, e a jornada começou tendo de atravessar o rio em Nadanghat. Naquela hora da noite, não havia barco algum para nos fazer atravessar o rio, assim, guiado pelo sadhu Jayadwaita Brahmachari, tive de atravessar o rio a nado junto com ele.

Ele era discípulo de Prabhupada Srila Bhaktisiddhanta Saraswati Thakur e morava com Srila Guru Maharaj. Srila Guru Maharaj o enviara junto com outros sadhus para pregarem em Nadanghat.

Depois de algumas horas de caminhada, chegamos aos arredores da cidade de Navadwip e paramos. Perguntei ao sadhu Jayadwaita Prabhu: "Onde fica seu ashram?" Ele apontou para uma construção muito simples.

Naquela época, aqui no Math, existia apenas uma pequena construção de três cômodos. Eu fiquei um pouquinho desapontado. Durante a minha infância, tinha lido no "Mahabharata" e no "Ramayana" as descrições dos ashrams de Vasistha, de Visvamitra e de muitos outros. Conhecia essas descrições, mas este ashram não se assemelhava àqueles. Havia apenas uma construção, e eu estava um pouquinho desapontado.

O brahmachari explicou: "é uma construção pequena mas, dentro dela, mora um sadhu muito, mas muito grande."

Ao ver a construção, eu não fiquei muito feliz em meu coração. Mas já tinha largado a minha aldeia e não podia mais voltar atrás. Eu me havia comprometido... então, tinha de ficar.

Naquele momento, Srila Guru Maharaj caminhava na varanda, cantando em suas contas. Então, Jayadwaita Brahmachari Prabhu me mostrou: "Ele é nosso Guru. venha!"

Subimos até a varanda, e Jayadwaita Prabhu ofereceu suas reverências prostradas e me disse que fizesse o mesmo. Nesse momento, Srila Guru Maharaj perguntou: "Onde você encontrou este menino?" Jayadwaita Prabhu fez uma curta descrição do ocorrido e finalmente disse: "Foi desse modo que hoje este menino se juntou a seu ashram ". Srila Guru Maharaj respondeu que: "Ah, ele é um menino muito bom e muito inteligente."

Srila Guru Maharaj pensou que, "Se eu puder prepará-lo, esse menino será uma boa arma para nossa sociedade." Ele me perguntou: "Você pode ficar vivendo no ashram?" Eu estava surpreso e pensei, "Por que esse sadhu me pergunta se eu posso ficar? Vim para ficar e isso já é definitivo, então, porque ele me pergunta, 'Você pode ficar ou não?'" Na ocasião, eu não tinha idéia mas respondi: "Sim, eu posso ficar."

Primeiro jejum

Isso aconteceu no dia do aparecimento de Nrisimhadeva, um dia de jejum completo. Eu nunca jejuara antes. Desde que recebera formalmente a iniciação tradicional de brahmane, eu seguia o Ekadasi e nunca comia grãos naquele dia, mas jamais tinha jejuado. Ao invés de jejuar, nos dias de Ekadasi, costumávamos comer alu-dham (vegetal de batatas) e beber um pouco de receitas feitas de leite. Desse modo, respeitávamos o Ekadasi comendo preparações muito boas que tinham um gosto diferente.

Mas agora me diziam que: "É o Nrisimha Chaturdasi, você não terá nada para comer." Naquela época, eu não sabia nada sobre o Nrsimha Chaturdasi e, tendo caminhado a noite inteira, eu me sentia muito esfomeado. Aproximei-me de Jayadwaita Prabhu e disse a ele: "Ó Prabhu, estou faminto." Ele me respondeu dizendo: "Hoje é dia de jejum total." Perguntei: "Não posso comer nada?" Ele me disse que podia comer alguma fruta. Mas onde conseguiria encontrar uma? Apontei para um mamoeiro próximo e Jayadwaita Prabhu então me disse: "Sim, você pode comer um mamão. Mas deve dar a metade para a Deidade e o resto você pode comer".

Nessa noite, depois do Nrsimha-puja, eles me deram bastante alu-dam, e no dia seguinte houve um belo festival com muita Prasadam. Especialmente o paramanna (arroz doce) era realmente saboroso.

Dois dias depois, o resto do grupo de pregação retornou de Nadanghat, e parecia que agora eu já tinha muitos amigos. Srila Guru Maharaj tinha me examinado, e foi a minha boa fortuna que ele ficou muito atraído por mim. Ele procurava algum rapaz que pudesse vir a ser o futuro Guru de sua missão. Ele tinha uma fórmula: o rapaz em particular tinha de ser brâmane, inteligente etc., com o potencial para ser um guru.

Na época, Srila Guru Maharaj procurava alguém a quem pudesse preparar para continuar sua sucessão discipular. A me ver, ele me testou. Ele chamou Srila Krishnadas Babaji Maharaj e outros de seus amigos e pediu que eles também me testassem. Cada um deles apresentou um relatório muito positivo a meu respeito a Srila Guru Maharaj. Entre eles estava a irmã de Srila Guru Maharaj, Rama Didi. Srila Guru Maharaj também perguntou a ela: "Rama Didi, você vê este menino; no futuro ele será bom ou mau?" E Rama Didi respondeu: "Não posso predizer o futuro, mas agora ele me parece bom. Sim, eu penso que este menino é muito bom."

No começo, eu estava um pouquinho duvidoso se tinha feito a coisa certa ou não. Eu era apenas um rapaz e já tinha dado o passo de sair de minha casa e me juntar ao Math, mas isso na verdade foi feito por emoção e não por devoção. No começo, eu me sentia muito infeliz, mas, mais tarde, quando obtive a misericórdia de Srila Guru Maharaj, me tornei muito feliz.

De qualquer modo, depois de cerca de um mês, fomos com Srila Guru Maharaj ao Distrito de Midnapore. Em Midnapore, fica o Math de Sripad Jajavar Maharaj. Na época, Srila Guru Maharaj chegou a declarar que, se pudesse treinar este menino, ele se tornaria seu sucessor. Isso causou algum conflito com os brahmacharis do Math, até mesmo com aquele brahmachari que lera o "Bhagavatam" para mim, que antes gostara muito de mim e que me levou a pregar com ele tantas vezes.

Ao ouvir essa declaração de Srila Guru Maharaj, todos ficaram muito invejosos e, nesse dia, começou minha vida de conflitos. De Midnapore, Srila Guru Maharaj nos levou para Puri, para o Ratha Yatra. Faltavam quinze dias para o festival, e Srila Guru Maharaj nos mandou pregar no distrito de Ganjam.

Depois desse programa de pregação, um certo brahmachari não queria me levar a Puri para o Ratha Yatra. Srila Guru Maharaj ficou muito zangado e mandou um telegrama para que ele me levasse imediatamente para Puri. Na verdade, somente chegamos no dia em que tinha lugar o festival de Ratha Yatra, e Srila Guru Maharaj ralhou com aquele brahmachari: "Ele é um rapaz novo e nunca participou do Ratha Yatra antes. Por que você não queria dar-lhe a oportunidade de ver o Ratha Yatra?"

Desse modo, ele brigou pesadamente com o brahmachari. Naquela época, a norma do Math era que um recém-chegado tinha de morar no Math por no mínimo seis meses antes de ser considerado pronto para iniciação. Mas Srila Guru Maharaj quebrou a regra e me deu iniciação naquele mesmo dia do Ratha Yatra. Ele me chamou e disse: "Agora, vou iniciar você."

Houve alguma objeção do outro lado —não direta, mas indireta— mas Srila Guru Maharaj não deu atenção. Ele me deu a primeira iniciação em Puri Dham. Srila Guru Maharaj me disse: "Quando você cantar, cante atentamente e não fique pensando sobre o tempo gasto."

Dias ativos no Math

Eu passava o dia inteiro trabalhando. Tinha uma natureza muito inquieta e sentia que tinha de estar sempre fazendo algo. Não conseguia ficar em qualquer lugar sem estar trabalhando. Assim, trabalhava o dia inteiro. Sentia que precisava estar sempre ocupado.

Aqui no Math, se não houvesse o que fazer, eu subia no longo mastro da bandeira. Subia no mastro e descia para novamente subir. Eu fazia isso à tarde, enquanto os outros descansavam ou dormiam. Eu não descansava nessa hora. Outras vezes, trepava numa grande mangueira. No primeiro ano de minha vida no Math, as mangueiras estavam repletas de mangas, e eu subia ansiosamente nas árvores e comia mangas sentado nos galhos. Todos reclamavam de mim, mas eu não tinha medo, ou seja, eu era um menino aldeão —era destemido. E ainda sou destemido. Sinto que o Senhor Shiva está sempre comigo, me protegendo.

Quando eu era ainda mais jovem, costumava entrar na selva onde havia tigres, ursos e muitos outros animais perigosos, mas eu andava muito contente por essas florestas. Enquanto morei nos vilarejos, sempre senti que tinha esse tipo de proteção do Senhor Shiva. Ainda hoje, sinto sempre a proteção do Senhor Shiva; sinto que ele está sempre cuidando de seu próprio filho. Eu nasci por uma bênção do Senhor Shiva e, devido a essa oportunidade especial, sou uma pessoa destemida. Esse é o começo da história de minha vida.

Servo pessoal de Srila Guru Maharaj

Srila Guru Maharaj me fez seu servo pessoal. Eu fazia todo o seva pessoal de Guru Maharaj, e ele constantemente me ensinava muitas coisas. Passados cerca de seis meses, talvez um pouquinho menos, Srila Guru Maharaj fez os arranjos para que eu estudasse sânscrito diariamente com um pandita que vivia na cidade de Nabadwip.

Então, certo dia, encontrei meu tio caminhando na estrada. Ele me reconheceu. Ainda que naquela época eu era um brahmachari vestido de açafrão, ele logo me reconheceu. "Ah, aqui está você! Estivemos procurando você em vários lugares mas não pudemos encontrá-lo, e aqui está você em Nabadwip." Eu Respondi: "Sim, sim, aqui estou eu. Estou vivendo no Math. Por favor, venha ao Math. Por favor, por favor, venha! Eu moro lá." Mas, ele perguntou: "Onde é
seu Math?" E eu disse a verdade.

Isso foi um erro. Se eu tivesse mentido, eles não poderiam ter me achado, mas eu disse a verdade: "Estou morando no Sri Chaitanya Saraswat Math."

No dia seguinte, por volta das 10h30, eles chegaram. Eram doze gigantes e meu tio, acompanhados também por alguns panditas. Eles estavam em Nabadwip na ocasião. Quando chegaram, eu estava ocupado montando uma cerca na frente do Math. Eles me agarraram e tentaram me levar embora à força, dizendo, "Oh, eis o nosso menino". Eles tentavam me levar embora e eu gritava muito alto, "Oh,
eles estão me levando embora! Estão me levando!"

Foi uma graça que, naquele momento, apareceu um goala (leiteiro) bem grande que tinha muito respeito por Srila Guru Maharaj e costumava servi-lo também. Seu nome era Ashwini Ghosh. Eu apelei a ele: "Ashwini, eles estão me levando embora daqui!" E Ashwini veio e os interpelou: "Por que vocês estão levando este menino embora?" Eles responderam: "Este é nosso menino, por que não poderíamos levá-lo?" Então, Ashwini disse: "Se isso é verdade, vocês devem primeiramente ir até Maharaj e falar com ele, então poderão levar seu menino embora".

Eles notaram que o goala era muito forte e quase que certamente um dacoit (bandido). Muitos dos goalas naquela época eram dacoits. Especialmente nesta área, moravam muitas famílias de dacoits famosos, e todos sabiam disso. Assim, meu tio e seus amigos não puderam forçar a situação e tiveram de ir ter com Guru Maharaj e conversar com ele.

Srila Guru Maharaj disse: "Vocês somente poderão levar o menino embora se forem capazes de me derrotar no debate filosófico. Caso contrário, deixarão o menino aqui. Está certo?"

Estavam presentes talvez uns três eruditos em filosofia Vedanta, que se consideravam grandes eruditos. Eles pensaram: "Sim, não haverá qualquer problema", e concordaram. Eles retornaram no dia seguinte e foram derrotados com grande facilidade por Srila Guru Maharaj. Tentaram novamente por mais dois dias mas, toda vez, eles foram derrotados. Desse modo, não puderam me levar embora e tiveram de dar essa notícia à minha mãe. Então, minha mãe veio, e foi assim que aconteceram tantas coisas.

"Este menino será meu sucessor"

Na época, moravam no Math quatro ou cinco brahmacharis muito poderosos. Três eram particularmente qualificados e esperavam que um deles seria escolhido para ser o Acharya deste Math depois de Guru Maharaj. Mas, quando Srila Guru Maharaj declarou que "Este menino será meu sucessor", todos eles começaram a brigar comigo.

Na época, tínhamos uma filial em Calcutá na casa de Bhaktivedanta Swami Maharaj. Srila Swami Maharaj tinha dado dois quartos a Guru Maharaj para sua pregação. Ele foi a única pessoa capaz de inspirar Srila Guru Maharaj a sair de Nabadwip e ir a Calcutá.

Foram feitos arranjos por lá para que eu pudesse estudar gramática, Kavya, Vedanta, etc. com dois panditas. Todo dia, Swami Maharaj também me ensinava diretamente tantas coisas. Na verdade, Srila Guru Maharaj era meu professor, e sua erudição era incomparável.

Naquele ano, ficamos em Calcutá por três meses. Depois, fomos para Vrindavan por três meses e para outro local por mais três meses, viajando desse modo sempre para diferentes lugares. O tempo todo, meu professor principal
era Srila Guru Maharaj, mas, onde quer que chegássemos, Srila Guru Maharaj sempre conseguia algum outro professor para mim.

Em Vrindavan, meu professor era Visvambar Babaji Maharaj. Ele era um bom babaji... muito bom. Nem posso acreditar o quão bom ele era. Vinte anos depois, quando visitava Mathura, ouvi dizer que ele ainda estava vivo e fui visitá-lo. Ao me ver, Babaji Maharaj ofereceu-me reverências prostradas.

Que mais posso dizer? Eu estava surpreso e atônito vendo aquele que era um grande babaji fazer aquilo. Todos o respeitavam como sendo um babaji erudito e altamente qualificado. Eu lhe tinha oferecido minhas reverências de brahmachari por cortesia, mas ele me ofereceu reverências prostradas em troca, o que me surpreendeu.

Eu disse a ele: "Babaji, eu sou seu aluno e o senhor é meu professor. Por que o senhor fez isso? Sinto que é uma ofensa aceitar tais respeitos do senhor." Babaji Maharaj respondeu: "Oh, Baba! Ao ver você, senti que era Mahaprabhu que estava diante de mim, e prestei meus dandavats a Mahaprabhu. Você pode ser meu aluno, mas ver você me fez lembrar de Mahaprabhu, e eu não pude fazer nada além disso. Não foi para ofender você."

Eu vi quão humildes e tolerantes são todos os habitantes de Vraja-Dham. Eles toleram tanto, mas este babaji tinha uma mentalidade extremamente renunciada. Ainda que fosse um babaji sahajiya, meu sentimento era de oferecer-lhe minhas reverências. Naquele momento, a etiqueta regular havia sido temporariamente removida. De qualquer modo, somos seguidores de Srila Saraswati Thakura. O caminho daquele babaji era um pouco diferente, sem dúvidas, mas eu não sabia o quão qualificado ele era. Assim, prestei minhas reverências a ele. Desse modo, ofereci meus respeitos a esse babaji, mas fiquei muito surpreso de ver seu comportamento. Ele era meu professor e me reconheceu como seu jovem estudante de há vinte anos atrás.

Atado pelo afeto

Com o passar do tempo, Srila Guru Maharaj me oferecia cada vez mais de seu afeto. Na verdade, desde o início, eu ficara atado por seu afeto e não pela consciência de Krishna. Foi apenas seu afeto por mim e sua atenção que me deram uma super oportunidade de permanecer nesta linha da Consciência de Krishna.

Anteriormente, eu já sabia tanta coisa sobre Krishna, Mahaprabhu, Nityananda Prabhu e o Panchatattva, porque nascera numa família de brâmanes Vaishnavas onde sempre se falava e debatia a esse respeito. Eu já tinha uma boa base sobre a filosofia, mas essa não foi a causa de eu ter ficado no Math. A causa foi o afeto de meu Guru Maharaj.

Depois de entrar no ambiente da consciência de Krishna, foi Srila Guru Maharaj quem me deu inspiração, o que desde então tem sempre crescido e nunca diminui. Eu também recebi muita ajuda de seus Irmãos Espirituais. Eles foram sempre muito bons, oferecendo-me algum "alimento" substancial da concepção Krishna. Por isso, eu tenho a oportunidade de não criticar ou insultar a ninguém. Hoje, eu vejo tanto criticismo e insulto aos demais, mas Srila Guru Maharaj sempre elogiou outros Vaishnavas e nunca os criticou.

Para nossa proteção e orientação, às vezes, ele nos dava alguma informação a respeito deles, mas de modo muito honrado. Assim, a oportunidade de eu cometer qualquer ofensa aos Vaishnavas ficou muitíssimo reduzida.

Eu recebi muita ajuda de seus Irmãos e Irmãs Espirituais, e, de tempos em tempos, a irmã de Srila Bhaktisiddhanta Saraswati Thakur vinha se encontrar com Srila Guru Maharaj e ela também me oferecia suas bênçãos. Foi muito útil para mim que o olhar misericordioso de tantos cavalheiros e damas Vaishnavas recaiu sobre mim desde o começo de minha vida sob os pés de lótus de Srila Guru Maharaj aqui no Sri Chaitanya Saraswat Math.


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http://www.scsmathbrasil.com.br/atadopeloafeto.html
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Um Dia Muito Afortunado

Por Sua Divina Graça Srila Bhakti Sundar Govinda
Dev-Goswami Maharaj

Jaya Om Vishnupada Srila Bhakti Rakshak
Sridhar Dev-Goswami Maharaj ki jaya!
Jaya Bhagavan Sri Srila Bhakti Siddhanta
Saraswati Thakur ki jaya!
Jaya Prabhupad Srila A.C. Bhaktivedanta
Swami Maharaj ki jaya!
Jaya Giriraja Govardhan ki jaya!
Sriman Mahaprabhu ki jaya!
Rupanuga Guru-varga ki jaya!
Harinam sankirtan ki jaya!
Gaura premanandi hari hari bol!

Hoje é um feriado extremamente feliz para nós porque Sri Krishna Bhagavan fez o Seu aparecimento ontem à meia-noite aqui, e temos conosco tantos devotos celebrando este jubiloso dia em que o Senhor Krishna apareceu. Hoje também é o festival de Nanda Maharaj. Depois de muito tempo, Nanda Maharaj teve uma criança. E essa criança não foi uma criança comum. Nanda Maharaj ficou muito feliz e expressou seu coração realizando um grande festival, o que também fazemos aqui. Krishna é tão misericordioso com este mundo mundano, e, de tempos em tempos, Ele aparece para harmonizar tudo. Há mais de cinco mil anos atrás, Krishna apareceu aqui em Vraja Dham. Mas "Vraja Dham" significa junto com Sua própria morada. Este lugar é chamado Vraja Dham. Vraja Dham não significa somente a forma manifesta neste mundo material.

Srila Bhaktivinod Thakur disse que Krishna apareceu com Seus associados e com Sua própria morada neste mundo cheio de sujeiras e mundano. Aqui, Ele concedeu Sua misericórdia e exibiu Seus passatempos para as almas afortunadas, e elas se uniram aos passatempos de Sri Krishna. Esses passatempos são eternos e estão acontecendo eternamente até o presente.

A pessoa que é verdadeiramente devota do Senhor Krishna pode ver tudo. A pessoa que está vivendo aqui, se for muito afortunada e receber a Misericórdia Divina do Senhor Krishna, pode ver os passatempos do Senhor Krishna ainda acontecendo. Isso não ocorre somente em um brahmanda (universo). Brahmanda após brahmanda após brahmanda –dessa maneira Seus passatempos estão ocorrendo.

Todas as casas estavam cheias de glória com a lembrança do aparecimento de Krishna. E aqui, quase todo mundo está jejuando para honrar o Janmastami. Até mesmo os Vrajabasis estão observando este festival com jejum. Eu fico surpreso de ver como os menininhos e as menininhas também estão honrando Krishna dessa maneira. Começamos desde cedo de manhã com sankirtan e discursos sobre o Senhor Krishna.

Na época em que me uni a Srila Guru Maharaj, naquele ano, lembro que desde a manhã Guru Maharaj começou a ler o parayan do Chaitanya Charitamrita, indo até o capítulo do nascimento, o 13º capítulo, e continuou lendo depois disso. Fizemos algum grande sankirtan, apenas três ou quatro brahmacharis, mas foi muito glorioso e eu ainda lembro disso. Nesse dia, Guru Maharaj nos deu uma concepção refinada.

Na verdade, Krishna apareceu em duas formas. Uma é o Krishna de Yadukula e outro é o Svayam Bhagavan Krishna que é sempre brincalhão. Este é o Krishna que é a Realidade, o Belo, e Ele está vivendo sempre em Vrindavana Dham. Podemos sentir isso em nosso coração. Isso está se revelando no coração e podemos entender, podemos ver todos os passatempos do Senhor Krishna.

Ontem, cinco de nossos devotos chegaram da Rússia liderados por Jaganatha Vallabha Prabhu. Da Malásia, vieram doze devotos, e vários devotos chegaram de outros lugares. E de Utar Pradesh etc., muitos devotos se uniram a nós neste festival e sentem-se muito felizes de estar aqui no Srila Sridhar Swami Seva Ashram. À meia-noite, após o nascimento de Sri Krishna, fizeram o abhisek de Giriraj Govardhan, e todos estivemos presentes festejando o aparecimento do Senhor.De Vasudeva, Krishna se transferiu para o coração de Devaki, e de lá o Senhor Krishna fez o Seu aparecimento. Esse é o fato. O Senhor Krishna apareceu em Mathura em Sua forma de Narayana de quatro braços e disse a Vasudeva e a Devaki: "Em muitos nascimentos, Eu fui seu filho, e devido a seu desejo, neste nascimento estou aparecendo como filho de Devaki. Para sua satisfação, encontro-Me em Minha forma de Narayana, mas Eu sou Krishna."

Então, Krishna assumiu a forma de um bebê normal e ordenou a Vasudeva: "Leve-Me até Nandala onde nasceu uma menina que você trará consigo; pegue essa menina e deixe-Me no lugar dela em Nandala.

Passado algum tempo, Nanda Maharaj viu que Yasomati deu nascimento e desmaiou e que, naquele momento, ela havia tido um menino e uma menina. Esta concepção foi apresentada por nossos Goswamis. Depois de realizarem as Escrituras, depois de realizarem o carater do Senhor Krishna, eles ficaram muito seguros e também realizaram isso a partir de vários comentários do Srimad Bhagavatam.

Rupa Goswami Prabhu nos deu esta concepção de que eram dois Krishnas que se combinaram numa única forma e que apareceram pela primeira vez em Vrindavan; mas, quando foi necessário demolir a atividade demoníaca deste mundo um dos Krishnas saiu de Vrindavan. Mas o Krishna original, aquele que é o paramesha isvarah paramah krsnah sachchidananda-vigraha anadir adir govindah, permaneceu em Vrindavan.

Podemos ver como, desde esse momento em Vrindavan, por meio dos passatempos de Krishna, Mahaprabhu saboreou o coração e a áura de Radharani unido na saudade (união na separação). Para desfrutar desse passatempo, Krishna aparece como Gauranga Mahaprabhu. Esta história é apresentada por Rupa Goswami Prabhu, Svarupa Damodar Prabhu e também por outros devotos de Chaitanya Mahaprabhu.

Os devotos encontrarão o significado disso no Chaitanya Charitamrita. Assim, entenderão que Krishna brinca em Vrindavan com Sua flauta e com os gopas e gopis; Ele é a Suprema Personalidade de Deus. Brahma deu essa concepção no Srimad-Bhagavatam.

Aquele que nasceu de Nanda Maharaj é o pashupanpajaya Krishna. Essas palavras foram apresentadas por Rupa Goswami com muita fé, pois o Srimad Bhagavatam jamais mente. Cada palavra do Srimad-Bhagavatam é a forma do Senhor Krishna. Isso foi expresso no 12º Canto do Srimad-Bhagavatam. Cada Canto é a forma do corpo do Senhor Krishna.

Esta é a verdade dada por Rupa Goswami Prabhu, e disso podemos compreender que o lila de Vrindavana ocorre eternamente aqui, até o dia de hoje. Aquele que for um devoto verdadeiro poderá sentir…

Sentimentos estão ocorrendo dessa maneira. Como isso é possível, não podemos sequer imaginar com nosso cérebro microscópico. Mahaprabhu disse: "achintya beda abeda". O relacionamento entre nós e Krishna é achintya (inconcebível). Somente um devoto totalmente dedicado poderá senti-lo, mas não um devoto comum.

Rupa Goswami Prabhu disse que um devoto verdadeiro também não pode compreender. Somente quem for excepcional e estiver dotado de um humor devocional excepcional poderá entender isso. Estamos recebendo esta concepção: "vidantas te santah ksiti-virala-charah katipaye" (Sri Brahma Samhita). Eles também estão obtendo isso…

Então (nessa ocasião), na casa de todos existia algum altar, alguma foto do Senhor Krishna. As pessoas estão totalmente devotadas a Krishna; sabem que Krishna é a Suprema Personalidade de Deus e O adoram desse modo.

Estou aos pés de lótus de Giriraj Govardhan. Giriraj me deu esta oportunidade. Estou morando aqui este ano com os devotos. Antes, era minha vida prática vir todo ano.

Sinto-me sustentado pela vontade de Guru Maharaj; estou viajando de país a país. Um ano, comemoramos o Janmastami em Moscou, Rússia. Outro ano, foi na Itália. Este ano, voltei da Rússia, pois era meu desejo permanecer em Vrindavan até o final do Janmastami. Mas, depois de vir aqui, Govardhan me atraiu e me deu tanta facilidade para viver aqui com os devotos, que não consigo retornar a Vrindavana...

Rupa Goswami diz em um verso seu: "Onde está Radha-Kunda? Onde está Syama-Kunda? Onde está o Govinda-Kunda? Onde está Kusum Sarovara? Onde está o Manasi Ganga, etc.?"

Govardhan Giriraj veio da nossa terra e agora Giriraj tem uma casa boa, um bom Templo, e Giriraj está muito feliz conosco. Quando vim de Vrindavana, só desejava ficar uns três dias por aqui, mas a atração de Giriraj e Sua misericórdia me mantiveram aqui por quinze dias –assim, sou muito afortunado. E comigo estão Sripad Chidananda Prabhu e Sripad Jagannath Vallabha Prabhu, Sri Krishna Labanya Prabhu e Sri Sanjit Prabhu de Delhi com Mahesvari. Também a boa esposa de Jagannath Vallabha e muitos amigos de Krishna Ravana, e estamos festejando aqui o dia do sagrado aparecimento do Senhor Krishna. Isso é tão belo!

Ontem, instalamos o sino ressonante que veio da Rússia –um sino de 100kg– e que foi instalado por tantos devotos. Estamos fazendo soar esse sino na hora do aparecimento, e estamos realizando um sankirtan, um grande sankirtan.

Hoje é o dia do festival de Nanda Maharaj. Nanda Maharaj deu tantas oferendas, e as pessoas também estão fazendo suas oferendas a Krishna em Sua casa… O caminho até a casa de Nanda Maharaj encontra-se povoado por um grande festival, e estamos lembrando disso e realizando esse grande festival hoje em Govardhan, no Srila Sridhar Swami Seva Ashram.

Paralelo a isso, hoje também é um dia muito afortunado para este mundo, pois a concepção e a verdade de Krishna saiu da Índia para serem difundidas pelo mundo todo. Hoje é o dia do aparecimento de Prabhupad A.C. Bhaktivedanta Swami. Sem dúvida, em Vrindavana, estão realizando um enorme festival. Nos sentimos tão endividados a Prabhupad Srila A.C. Bhaktivedanta Swami, pois ele criou um grande túnel para demolir o mundo egoísta. Uma montanha… ele demoliu uma montanha de ego com seu poder e obtivemos um excelente canal para entrar no Ocidente. Agora, tantos Maths estão entrando nesse mundo. Eu não sei o quanto eles estão lembrando dele, mas em meu coração e alma eu posso dizer que ele é o melhor amigo de meu Guru Maharaj. Ele é… e ele mesmo disse que: "Srila Sridhar Maharaj é meu shiksha guru (mestre espiritual instrutor) e ele é adorável igual a Krishna e a Mahaprabhu". Krishna foi tão misericordioso com ele pois deu-lhe a associação de Srila Guru Maharaj.

Eu fui afortunado de obter a associação de Sua Divina Graça Srila Prabhupad em sua vida espiritual. Estou recordando os passatempos de Srila Prabhupad, e até hoje as suas glórias florescem por todo o mundo e trazem júbilo aos corações de todos com o mahamantra Hare Krishna. Estamos tomando seus remanentes e indo por toda parte, obtendo uma partilha desse júbilo.

Eu estava surpreso; acabo de chegar da Rússia e nossa pregação foi tão gloriosa por lá. Não podemos conceber o quão gloriosa foi, mas aconteceu. E Sri Sri Guru Gauranga Radha Madhava apareceram na Rússia, em nosso Math –esse era o desejo de Prabhupad e de Srila Guru Maharaj. Seu primeiro aparecimento foi lá em Seu local próprio, e isso nos beneficiou.

Nosso Vijay Raman Prabhu é o comandante do Math lá. Ele está fazendo tudo dia e noite servindo com toda sua família– filho, neto, nora, esposa e todos. Ele deu a liderança suprema a Jagannath Vallabha, seu filho. Somos muito afortunados que tivemos a oportunidade de pregar na Rússia. Agora, milhares de devotos na Rússia estão glorificando nosso Srila Guru Maharaj, Srila Prabhupad e ao Senhor Sri Krishna e cantando o Santo Nome do Senhor. Eles são Vaishnavas muito simples de coração. Na realidade, foram muito afortunados; a atmosfera ateísta os deixou muito secos e, por isso, eles têm tanto anseio pelo néctar. Quando receberam esse néctar e caíram no oceano nectáreo, eles se sentiram tão felizes. Este ano vimos isso. Estamos atônitos. Somos muito gratos a eles ao ver seu espírito devocional.Estamos comemorando o dia do aparecimento de Swami Maharaj aqui com tantos devotos. Também virão os aldeões de Govardhan. Cada Math realizará muitos memoriais... Estamos adorando esse dia.

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A Renúncia Correta

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A Renúncia Correta

Por Sua Divina Graça Srila Bhakti Sundar Govinda
Dev-Goswami Maharaj


10 de julho de 2001 - Vrindavana, Índia

Jaya Srila Guru Maharaj ki jaya!

Afortunadamente, estamos aqui agora em Sri Vrindavana e Govardhan Dham. Antigamente, Govardhan, Vrindavana, Radha-Kunda, Shyama-Kunda, todos os locais onde os passatempos do Senhor Krishna aconteceram estavam ocultos. Na verdade, Govardhana não estava oculto. O Próprio Mahaprabhu descobriu Radha-Kunda e Shyama-Kunda. Ele mandou que Rupa Goswami e Sanatana Goswami fossem a Vrindavana e ordenou-lhes que descobrissem outros locais. Naquela época, Vrindavana não era como hoje. Rupa Goswami e Sanatana Goswami vieram aqui com outros devotos para descobrir os vários locais dos passatempos de Krishna.

Aqui podemos perceber que todos aqueles que descobriram estes locais estavam dotados de uma mentalidade muito renunciada. Mahaprabhu era assim, e esse também era o carater de Sanatana Goswami —todos esses Vaishnavas eram renunciados. Eles sequer queriam ficar num só lugar. Dormiam cada noite num lugar, indo de uma árvore para outra e de um local para outro. Não conseguimos conceber um tal tipo de renúncia.

O Próprio Mahaprabhu deu poderes a Sri Rupa, Sanatana, Raghunath Bhatta e Lokanath Das Goswami. Ele fez de Rupa Goswami e Sanatana Goswami os líderes. Eles estavam em Vrindavana, e todos vinham para ficar com deles. Mahaprabhu mandou Raghunath Bhatta Goswami para que ficasse com Rupa e Sanatana. Lokanath Das Goswami também sabia disso, quando também foi ficar com Rupa e Sanatana. Nityananda Prabhu mandou que Jiva Goswami fosse viver em Vrindavana junto com Rupa e Sanatana, e Gopala Bhatta Goswami também ficava com eles.

Não podemos conceber o quão renunciados todos eles eram. Eles saiam todo dia em madhukari (mendigar). Alguém dava um pedaço de roti (pão sem fermento). Depois de obter três ou quatro pedaços de rotis, eles comiam isso com algum picles ou com qualquer outra coisa que tivessem obtido. Caso contrário, comiam apenas o roti seco. Outras vezes, se obtivessem a mais, deixavam secar na janela. Conto esta história de secar o roti na janela pois, quando vim pela primeira vez com Srila Guru Maharaj e ficamos no Bhajan Kutir de Sanatana Goswami em Nandagram, estavam conosco quatro outros Vaishnavas iniciados por Srila Bhakti Siddhanta Saraswati Thakur. Eles viviam com o que conseguiam com madhukari diariamente. Eu vi que, se obtinham mais madhukari, talvez no dia seguinte ou durante uma semana paravam de fazer madhukari. Deixavam esses rotis na janela. O clima estava muito quente e os rotis secavam. Todo dia, eles punham estes rotis secos na água para amolecê-los. Comiam isso com um pouco de sal e leitelho. Guru Maharaj e eu também comemos essa prasadam. Não é possível conceber um tal tipo de renúncia nesta era.

Certa vez, um sannyasi veio ficar em nosso Math. Seu Guru, Bhakti Desikacharya, era discípulo sannyasi de Guru Maharaj. Ele já morreu. Ele cantava trezentos mil Harinam diariamente sem dormir a noite inteira. Ele era muito famoso e conhecido de todos. Todos queriam dar a ele madhukari, mas ele aceitava somente um pouquinho. Esse era o seu carater. Por sorte, quando decidiu aceitar o voto de sannyasa, ele veio a Guru Maharaj e disse:"Durante quinze ou dezesseis anos, tenho vivido desse modo. Obtive alguma inspiração de que devo seguir meu Guru Maharaj, Srila Prabhupad Saraswati Thakur. É por isso que desejo tomar sannyasa". Ele vestia roupas de babaji mas não tinha obtido o mantra de babaji de ninguém. Ele apenas praticava a renúncia. Então, ele recebeu sannyasa de Guru Maharaj e foi embora.

Mais tarde, seu discípulo veio ficar em nosso Math. Certo dia, eu lhe perguntei: "Qual o seva (serviço) que você faz?" Ele me respondeu: "Não conheço qualquer seva, somente canto Harinam, e fico em meu quarto. Eu faço madhukari e não como a prasadam do Math." Dessa maneira, ainda existem muitos Vaishnavas em Vrindavana Dham que seguem o processo de Rupa e Sanatana.

Prabhupada Saraswati Thakur queria conceder a misericórdia de Chaitanya Mahaprabhu a todo o mundo. Ele não gostava de renúncia. Ele gostava do serviço a Mahaprabhu. Mahaprabhu disse: "Jive doya name ruchi vaisnava seva." Muitas vezes, Mahaprabhu disse que a vida de renúncia é boa. É sem dúvidas o desejo de Mahaprabhu. Mas a renúncia pode apenas levar-nos até Nirvisheshaloka. De qualquer modo, podemos ver nas atividades do Próprio Chaitanya Mahaprabhu e através de Seus devotos que deveríamos abandonar o apego a kanak (riqueza), kamini (belas mulheres) e pratishta (fama), já que estes são os obstáculos na senda espiritual do devoto.

Aqui encontramos uma contradição entre Prabhupad Saraswati Thakur e Mahaprabhu. Mas essa contradição é apenas externa. Na verdade, podemos ver que o humor de Prabhupad Saraswati Thakur não se diferencia do humor de Mahaprabhu. Ele disse que, "Muitos seguem a Rupa e a Sanatana externamente, mas internamente estão apegados a kanak, kamini e pratishta."

A Sahajiya sampradaya deseja tornar tudo mais fácil. Prabhupad Saraswati Thakur disse: "O que você deseja? Se você deseja Krishna, Ele pode controlar a sua posição. Os passatempos de Krishna não devem ser imitados. Tente praticar algum sadhana." Sadhana significa Vaishnava seva e cantar Hare Krishna. Prabhu kohe jive doya name ruchi vaisnava seva.

Se for bondoso com os demais, você não sofrerá qualquer reação, e Krishna será misericordioso com você. Por isso, tente ajudar os demais despertando-os. Todas as almas jiva estão dormindo e sonhando. Desperte-as! A isso se dá o nome de "jive doya" que significa o despertar interior da alma. Não é necessário construir um hospital, ou outra coisa qualquer para a manutenção do corpo externo mas sim despertar as pessoas internamente. Isso as ajudará a permanecer na posição consciente apropriada. Mahaprabhu nos deu alguma inspiração graças à qual podemos permanecer nessa posição. Rupa e Sanatana praticaram isso com grande força.

Aqui em Vrindavana, podemos ver o Govinda Mandir de Srila Rupa Goswami. Na verdade, não foi Rupa Goswami quem construiu esse Templo. Raghunath Bhatta Goswami disse a seu discípulo que o construísse. Rupa Goswami aceitou esse serviço, mas ele mesmo, às vezes, vivia numa caverna. Quando ficou muito velho, Jiva Goswami levou-o e cuidou dele, alimentando-o. Raghunath Goswami vivia no Radha-Kunda. No final, Sanatana Goswami vivia próximo ao Templo de Madana Mohana.

Mahaprabhu gostava muito de renúncia, e não apenas renúncia física mas também mental e verbal. Busque por Sri Krishna e por nada mais –essa era a concepção de Mahaprabhu. Não se envolva cada vez mais com o mundo material mas gradualmente ligue-se ao mundo espiritual. Sua existência se encontra no mundo transcendental, de volta ao Supremo. Todos sabem disso. Srila Prabhupad Saraswati Thakur disse isso muitas vezes: "De volta ao Supremo, de volta ao lar. De volta à própria morada de Deus." Lá, você tem um serviço a desempenhar e, logo que se juntar a esse mundo do eterno servir, você ficará mais do que feliz e não desejará retornar. Esse mundo existe numa parte deste mundo, acima deste mundo, em outro plano. Mas Guru Maharaj disse que, "Tudo está existindo dentro de nós; tudo está existindo dentro da consciência."

Bhaktivinod Thakur disse: "Onde houver um verdadeiro bhajan, lá estará Goloka Vrindavana." Tais sentimentos invadirão o coração do devoto. Mas, se houver muito desfrute, muito desfrute material, Krishna e Mahaprabhu não ficarão felizes com isso. Mahaprabhu deseja a renúncia das coisas materiais para se unir ao lila de Krishna. Essa é a orientação de Mahaprabhu. Rupa, Sanatana e outros Goswamis tentaram apresentar essa concepção também. Primeiro, devemos tentar abandonar o apego a dinheiro e riquezas, o apego a mulheres e o apego à fama. Essa é a verdadeira renúncia.

Quando o Senhor Gopal roubou o arroz-doce para Madhavendra Puri, Madhavendra Puri ficou com muito medo, porque o sacerdote veio em busca dele com o pote de arroz-doce, gritando "Quem se chama Madhavendra Puri... este arroz doce feito com leite condensado é para ele. Gopal o roubou para ele!" Madhavendra Puri não podia negar ser ele mesmo. Mas ficou muito perturbado de aceitar o arroz-doce, e pegou o pote de barro e fugiu, pensando, "Amanhã de manhã todos ficarão sabendo que Gopal roubou o arroz-doce para mim, e eu ficarei muito famoso por aqui." Devido à fama, ao pratishta, ele fugiu. Os devotos não querem pratishta, mas o pratishta está sempre correndo atrás deles. Eles estão correndo do pratishta, mas o pratishta está procurando por eles. De qualquer modo, Rupa e Sanatana são hoje muito famosos, mas viviam lá em Vrindavana Dham.

Às vezes, podemos ver esse tipo de renúncia nesta era. Prabhupad Saraswati Thakur disse que não é possÍvel praticá-la, mas que é possível render a mente, dar tudo e ocupar-se completamente, 24 horas ao dia, no serviço a Krishna. Não para si, mas para o serviço a Krishna. Isso virá através do Guru Vaishnava. Este processo foi dado por Prabhupad Saraswati Thakur. Srila Guru Maharaj seguiu isso. Estamos tentando lembrar isso. Somente estamos tentando prosseguir na linha da Consciência de Krishna, pregando a Consciência de Krishna e harmonizando-nos com a situação atual do mundo. Mas se desejamos nos tornar capazes de escolher o mundo eterno, devemos renunciar às coisas materiais. Não devemos ficar muito envolvidos com o mundo material e, na medida de nossas possibilidades, devemos tentar abandoná-lo.

Quando Raghunath Bhatta Goswami foi a Puri Dham visitar Mahaprabhu pela primeira vez, ficou com Ele durante oito meses. Depois, ele voltou a Benares. Mahaprabhu disse a ele que não se casasse. Ainda que Mahaprabhu era estritamente contra isso, vemos que, em nossa sociedade atual, alguns brahmacharis se casam. A vida matrimonial não é ruim, mas, manter a renúncia e o serviço a Krishna dentro da vida matrimonial não é muito fácil. Depois do casamento, virá uma carga muito pesada. Mahaprabhu orientou e disse a Raghunath Bhatta Goswami que não se casasse.

Esta foi a conclusão de Prabhupada Saraswati Thakur e de Guru Maharaj. A vida familiar é difícil e você não pode praticar a renúncia plena. Se você não estiver renunciado deste mundo material, como buscará por Sri Krishna? Primeiro, é necessário oferecer um lugar a Krishna em seu coração. Mas se seu coração está todo ocupado com sua esposa, pai, mãe, irmão, filho, neto, etc., onde haverá lugar para Krishna? Por isso, Mahaprabhu aconselhou a não se casar.

Um brahmachari vestindo roupa açafroada me disse: "Por favor, Gurudeva, diga-me, o que devo fazer com minha roupa açafrão?" E o que posso dizer-lhe? A roupa açafrão significa que ele aceitou a ordem renunciada. Depois que se aceita a ordem renunciada, eu nunca posso dizer: "Você deixe-a". Isso é impossÍvel, pois Mahaprabhu e Prabhupad Saraswati Thakur não queriam que brahmacharis voltassem para a vida familiar. Esse não era seu desejo.

Estamos tolerando tantas coisas. Estamos aconselhando a todos aqueles que estão chegando a nós a que não façam isso ou não façam aquilo... Não podemos dizer-lhes que vão para o inferno. E essa é uma posição infernal, penso eu. Estou vendo que estão se dirigindo para o inferno. Assim, o que posso dizer-lhes?

De qualquer modo, Mahaprabhu mostrou o carater de Sri Rupa, Sanatana, Raghunath Das, Raghunath Bhatta e de outros grandes devotos; mostrou como viver uma vida renunciada com a mais elevada concepção da Consciência de Krishna. É preciso discutir este assunto cada vez mais. Agora, não estou me sentindo muito bem. Por isso vamos parar por aqui.

Busquem por Sri Krishna, e não por dinheiro, mulheres ou fama —essa era a concepção de nosso Guru Maharaj. A Busca por Sri Krishna: esse é o conselho a todos. Guru Maharaj se sentia muito infeliz quando alguém chegava ao Sri Chaitanya Saraswat Math em busca de qualquer outra coisa. Ele perguntava: "A pessoa veio aqui em busca de Sri Krishna ou de algo mais?" Essa era sua mentalidade.

Devo dizer isso a todos os devotos —simplesmente tentem evitar tudo o mais. Ofereçam suas mentes à Consciência de Krishna. Tentem cantar o mahamantra Hare Krishna. Tentem servir aos Vaishnavas. Tentem servir ao Guru e sejam bondosos com todos. Não briguem com ninguém. Esse é meu conselho. Eu estou tentando seguir isso e estou aconse-lhando meus amigos e suas famÍlias a fazerem o mesmo.

Hare Krishna!


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As Três Qualidades de um Devoto

Por Sua Divina Graça Srila Bhakti Sundar Govinda
Dev-Goswami Maharaj

Jaya Om Visnupad Srila Bhakti Raksak Sridhar Dev-Goswami Maharaj ki jaya!

Sinto-me feliz toda vez que tenho a oportunidade de comentar através das linhas telefônicas, pois esse é meu dever para com Guru-Vaisnava, que é quem está escutando, quem está organizando e cuidando de tudo. Realmente, a nossa Missão –Sri Chaitanya Saraswat Math– foi organizada por Srila Guru Maharaj para resgatar as almas condicionadas deste mundo material com o remédio apro-priado. Harinam sankirttan foi outorgado por Sri Chaitanya Mahaprabhu para resgatar as almas condicionadas.

Estamos trabalhando por esta missão tanto quanto seja possível. Estou muito feliz com meus irmãos e irmãs espirituais e com os discípulos. Eles estão trabalhando de coração e alma para difundir esta consciência de Krishna na linha de Srila Guru Maharaj. Agora, em todo o mundo existem tantos centros, mais de 60 e talvez 70. E em cada centro, os devotos estão tentando ensinar a consciência de Krishna. Tantos devotos estão ajudando de diversas maneiras a organizar todas as missões. Não apenas num único país, mas em vários países, os buscadores sinceros podem unir-se a esta Missão, e eu penso que eles o fazem sem dúvida com seu coração e alma.

Mas devo expressar isso a todos também: a minha preocu-pação é que ouvimos que Mahaprabhu deu um procedimento para difundir a consciência de Krishna: humildade, tolerância e oferecer respeito aos demais. Esta é a primeira condição: quem for um pregador, quem for um organizador e a pessoa que for administrar, ou em qualquer posição que mantenha no Centro, a pessoa deverá primeiramente estar qualificada com estas três qualidades. De outra forma, nossa Missão será perturbada.

Vocês podem ver como a língua e os dentes compartilham do mesmo espaço na boca. Mas se perdermos o equilíbrio, não poderemos manter ambos apropriadamente. Isso significa que os dentes mordrão a língua. Ocorre às vezes em alguns lugares. Eu vejo isso acontecer e, devido a isso, estou muito preocupado. Não devemos pregar unicamente de boca, não apenas dizer: "somos almas rendidas". Realmente, o quão rendidos estamos ao Senhor Krishna? Nossa qualidade depende disso. Se realmente estamos entregues a Krishna, devemos seguir a Sua instrução. Sriman Mahaprabhu é a Forma não diferenciada de Krishna. Isso já sabemos. Conhecemos a filosofia de Mahaprabhu. Conhecemos os ensinamentos de Mahaprabhu mas devemos aplicar esse método em nós mesmos.

trinad api sunichena taror ahi sahisnuna
amanina manadena kirttaniyah sada harih

Aquele que tiver essas três qualidades é qualificado para predicar e para cantar o Santo Nome do Senhor. Atualmente, existem perturbações por todo o mundo causadas pela violência. Estamos vendo tantas dificuldades neste mundo, especialmente na Índia, onde moramos, e onde as políticas estão perturbando as mentes das pessoas simples. E por toda parte ocorre o mesmo. Mas realmente, a natureza do pregador será de harmonizar com todas as circunstâncias o que poderá fazer se possuir as qualidades da humildade, tolerância e se oferecer respeitos aos demais.

Aqui temos a humildade, mas eu darei preferência à tolerância. A humildade é sem dúvidas necessária, mas devemos ser tolerantes, caso contrário, não poderemos avançar rumo à meta de nossa vida. Essas três qualidades devem estar presentes no devoto.

"Devoto" é uma palavra que utilizamos muito, mas, o quão dedicados estamos ao Senhor Krishna? Por que não estamos seguindo o método que o próprio Krishna está oferecendo para nosso benefício espiritual, para nosso avanço? Devemos tentar fazer isso.

Estamos sofrendo neste mundo material de várias maneiras, mas podemos tolerar todo tipo de sofrimento. Não existe outra maneira, estamos tolerando. Alguém não possui uma casa, outra pessoa tem uma casa mas dentro da casa não existe harmonia apropriada na família, e assim ocorrem vários tipos de perturbação. O egoísmo nos perturba demasiadamente.

"Caridade começa em casa." Estamos pregando aos outros, mas não pregamos para nós mesmos. Temos um livro maravilhoso, o Prapanna-jivanamrtam (já publicado em português). Nós já o publicamos, mas quantas vezes o lemos? E por que não podemos controlar a nós mesmos?

Através desses ensinamentos de Sri Chaitanya Mahaprabhu, nosso Guru, nosso amigo, o Vaishnava e o Senhor Krishna, estão todos eles a nosso favor. Contudo, não podemos nos qualificar para falar nesta situação. Se esta situação surgisse, então, de que modo poderíamos pregar felizes? "Caridade começa em casa." Primeiro, devemos tentar nos manter dentro dessas três qualidades: humildade, tolerância e oferecer respeito e honra aos demais. O método de Mahaprabhu é realmente essencial nesta era da Kali-yuga, pois esta é a era da querela (briga, disputa, conflito). A língua e os dentes sempre brigarão. Esta é a experiência de uma pessoa mais velha como eu. Meus dentes sempre estão cortando minha língua. Não é somente bom mas é também necessário manter um ajuste apropriado.

Nossa religião pode nos oferecer um método para o ajuste apropriado. Portanto, antes de tudo, seja tolerante. Guru Maharaj disse isso de outra maneira: "Esperem e vejam. Nada de ruim acontecerá com vocês, nada de crítico virá até vocês. Qualquer tipo de perturbação poderia acometer vocês, mas primeiro esperem e observem. O quão prejudicial será para vocês, quanto de benefício trará para os demais e para vocês? Primeiro, devem tentar compreender isso e também devem dar um tempo para consertar a mente do outro.

Eu mesmo estou aplicando este método e me sinto muito feliz com isso. Um devoto se sentia muito perturbado e me disse: "Maharaj, aconteceu isso, aconteceu aquilo, aconteceu isto e não posso tolerar, etc, etc." Eu não respondi. Esperei. Passados três a quatro dias, o devoto me ligou e disse: "Oh, tudo está em harmonia por aqui". Eu não respondi; eu somente espero e observo. Quantas vezes surgem situações de disputas? Mas as pessoas estão se harmonizando e logo me ligam e dizem: "Maharaj, tudo vai bem, não há problema".

Guru Maharaj disse: "Esperem e observem." Escrevi na minha porta para que todo vejam, sahasar pita... Repentinamente, agora, não devemos fazer nada. Repentinamente, agora, não devemos dizer nada. Sem realização, não devemos empreender qualquer ação, e com realização devemos atuar com humildade e oferecendo respeito aos demais. Sua tolerância lhe trará resultados milagrosos.

Estou pregando isso por todo o mundo, e vejo como todos estão felizes neste momento no México, Londres, Estados Unidos, Holanda, Rússia, Itália, Suíça, Brasil. Por onde quer que esteja pregando, estou apenas pregando isto:

harer nama harer nama
harer namaiva kevalam,
kalau nasty eva nasty eva
nasty eva gatir anyatha

(Ch.ch. Adi 17.21)

Não existe outra alternativa a não ser o canto do Santo Nome do Senhor. O Canto do Santo Nome está presente em todas as sociedades. A pessoa pode ser Muçulmana, pode ser Cristã, pode ser Budista ou pertencer a qualquer outra religião. Todos estão glorificando. Mas, na era de Kali-yuga, o que vem do alto, amnayah, Veda, esse mantra é o mahamantra Hare Krishna. O próprio Mahaprabhu, Krishna, outorgou esse mahamantra. Mesmo assim, Mahaprabhu disse que o mahamantra tem sete línguas e pode queimar tudo o que há de mau e irracional, os assuntos que incomodam, e, ao mesmo tempo, pode outorgar vida a todos e alegria ao coração do praticante.

param vijayate sri krishna sankirttanam

Isso não se encontra realmente no livro, mas tentaremos cantar e oferecer respeito aos pés de lótus de Mahaprabhu Chaitanyadev com amor e afeto e de todo coração. Seu ensinamento é: trinad api sunichena taror api sahisnuna amanina manadena. Se não seguirmos esse método, perde-remos tudo nesta era de Kali-yuga. Mas eu tenho uma boa oportunidade através deste corpo humano, no qual tenho liberdade total de praticar a consciência de Krishna. E esta é a única forma de obter alívio deste meio ambiente ilusório. Por que não haveria de me preparar e por que não haveria de pensar dessa maneira? É meu único dever, é minha única meta na vida; eu devo seguir isso. Mahaprabhu disse:

prabhu kahe kotilam ei maha-mantra,
yaha yaha hoite sarva siddhi hoy....

Nada de regras ou regulamentos, não há nada rígido neste processo. Somente existe amor e afeto. A fé é a base. Tenho dito isso mil vezes. Mas é preciso cantar e seguir o processo dado por Mahaprabhu de humildade, tolerância e oferecer respeito aos demais, com amor e afeto.

Eu creio que será melhor que pensemos em "Harinam", na humildade, tolerância e em oferecer respeito aos demais. Somente este mantra e o conselho de Mahaprabhu: kirttaniya sada harih; é preciso cantar o Santo Nome do Senhor que é a Forma da vibração transcendental que descendeu do mundo transcendental para este mundo material. Esse lar transcendental pode ser tocado com nossos corações e, desse modo, obteremos alívio desta existência material. Podemos viver neste plano da devoção. Estamos sempre dizendo: "devoto, devoto", mas quem é devoto eu não sei. Como a pessoa que não puder seguir corretamente o método de Mahaprabhu poderá dizer: eu sou um devoto!?

Mahaprabhu mesmo mostrou esse procedimento de identificação da alma-jiva. Mahaprabhu não disse: "Eu sou Krishna dasa". Essa não é minha identificação. Eu não sou hindu, não sou muçulmano, nem sou cristão, mas sou gopi-bharttu pada-kamalayor dasa-dasanudasah. Mahaprabhu mesmo disse: "Minha identidade é que não sou Krishna dasa, mas o servo do servo do servo do servo do dasa de Krishna. Dasa de Krishna, essa é a minha identidade." Por quê? Isso é humildade. Mahaprabhu tolerou tanto –tantas coisas! Mahaprabhu nos aconselhou: "Devem ser humildes, tolerantes e devem oferecer respeito aos demais." Essas três qualidades são a sua propriedade. Cantem o mahamantra Hare Krishna sem ofensas e sejam felizes.

Jaya Om Visnupad Srila Bhakti Raksak Sridhar Dev-Goswami Maharaj ki jaya!

http://www.scsmathbrasil.com.br/astresqualidadesdodevoto.html


Leito de Fogo da Separação


Por Sua Divina Graça Srila Bhakti Sundar Govinda
Dev-Goswami Maharaj


Depois de sua assim-chamada renúncia (sannyasa), Mahaprabhu permanenceu no mais profundo humor de separação por doze anos no Gambhira, seu quarto em Jagannath Puri. Srila Sridhar Maharaj escreve em seu Prema Dhama Deva Stotram:

sri svarupa raya sanga gambhirantya-lilanam
dvadasavdha banhi garbha vipralambha silanam
radhikadhirudha bhava kanti krsna kuñjaram
prema dhama devam eva naumi gaurasundaram

"Seus passatempos culminaram no gambhira-lila com Seus mais íntimos associados Sri Svarupa Damodara e Sri Ramananda Raya. Por doze longos anos Ele permaneceu no leito de fogo do profundo sentimento de separação por Krishna que Ele apreciou e discutiu com Seus associados. Ao mesmo tempo, Ele era como um elefante intoxicado com amor por Radharani e todo Seu ser vibrava com radha bhava. Dessa forma, Ele ficou completamente belo com a refulgência de Sri Radhika. Eu canto com alegria as glórias intermináveis de meu Senhor dourado Gaurasundara, o belo, a residência divina do Amor puro."

Srila Guru Maharaj descreve um "leito de fogo". E o tipo de fogo podemos notar na poesia de Madhavendra Puri, em seu sloka composto enquanto convalescia. Madhavendra Puri estava deitado em seu leito de morte. Nessa ocasião, este sloka a respeito do serviço também surgiu de sua boca de lótus. No Chaitanya Charitamrita está escrito que: "Este sloka é falado por Radha Thakurani. Pela misericórdia dela, o mesmo apareceu nos lábios de Madhavendra. O quanto Mahaprabhu saboreou esta poesia! Não existe uma quarta pessoa que possa saborer esse sloka."

"Não existe uma quarta pessoa que possa saboreá-lo." Um comentário muito forte: a própria Radharani entrou no leito de fogo da separação, e Ela manifestou este sloka. E Madhavendra Puri, na hora de sua partida deste mundo, obteve essa misericórdia. Que tipo de misericórdia? Você vê que o sentimento mais profundo de separação de Krishna está enlouquecendo as pessoas, mas elas não estão ficando totalmente loucas. Depois disso, qual é a posição que virá quando a pessoa ainda não obteve Krishna? Essa posição é de separação profunda e desesperança. Uma desesperança e uma profunda separação (tanra kripaya sphuriyache madhavendra-vani).

Sem esperança. Quando vemos que não há esperança para nossa consciência de Krishna, nesse momento, advém uma separação profunda no coração, e, nisso, a felicidade vai embora. "Estou pensando que não há esperança –o que farei agora (dayita bhramyati)?" Ao explicar esse verso, Srila Guru Maharaj expressou os mais profundos sentimentos que jamais ouvimos, mas não desejo dizer o que eles são. Seria demais. De qualquer maneira…

Radharani, Madhavendra, Gaurachandra –mas não um quarto homem. Mas havia Nityananda Prabhu e outros devotos muito exclusivos. Pelo menos quatro estavam constantemente com Mahaprabhu.

Renúncia! Sim. Serviço não é somente ou sempre físico. Não é algo que sempre pode ser observado fisicamente. Serviço nem sempre é executado física ou mesmo mentalmente. Mas aquele que está totalmente dedicado, verá o serviço surgir de seu coração.

E não há renúncia, do maior ao menor devoto –por toda parte– o mundo do serviço é como esse sevamaya bhumika (a terra da dedicação). Ao descrever Seva Bhumi (a terra do servir), ou qualquer coisa espiritual, é sempre necessário utilizar a palavra chinmaya (transcendental,) para deixar claro que estamos falando de uma conexão divina com o plano transcendental. Se a pessoa estiver vivendo dentro do plano transcendental da dedicação, todas suas ações no plano transcendental são para o serviço a Krishna: comer, dormir, trabalhar, tudo o que for feito será serviço. Tudo será serviço lá. E Mahaprabhu diz que o melhor serviço é sravan, kirtan (ouvir e falar a respeito de Krishna).

prabhu kahe–age kaha, sunite pai sukhe
apurvamrita-nadi vahe tomara mukhe

Quando Raya Ramananda explicava os passatempos de Radha e Krishna, Mahaprabhu disse: "Fale-me mais e mais –repetidamente e outra vez mais. Eu estou sentindo tanta felicidade. Isso é um oceano de néctar!"

Nossa idéia é que oceano é algo salgado. Mas a conversa a respeito de Krishna e Seus passatempos é um oceano de néctar. As escrituras também dizem que todos somos de fato crianças de um oceano de néctar (srinvantu visve amritasya putra). Assim, não deveria haver qualquer mau gosto, pois nossa riqueza original é néctar, mas, por estarmos cobertos pela ilusão, tudo fica ruim. Assim, é preciso sair de sob essa ilusão.

Qual foi o oceano que foi batido pelos deuses e demônios? Era um oceano de leite (kir –leite condensado). E desse oceano apareceu a Lua, Laksmi Devi, Airavata (o elefante celestial de Indra) e a Vaca Divina –Surabhi. Assim como a Lua se elevou sobre o oceano de néctar, Krishna se elevou sobre a família de Nanda Maharaj (nanda-kula-chandra). O sloka de Rupa Goswami neste particular é muito belo: kva nanda kulachandra. Chandraka também se relaciona ao pavão:

alola-chandraka-lasad-vanamalya-vamsi-
ratnangadam pranaya-keli-kala-vilasam
syamam tri-bhanga-lalitam niyata-prakasam
govindam adi-purusam tam aham bhajami

"Eu adoro Govinda, o Senhor Primordial, quem porta uma guirlanda de flores de Vrindavan que balança de um lado a outro pendurada em Seu peito. Sua cabeça está adornada com um broche de pena de pavão; enquanto Suas mãos enfeitadas com jóias tocam a flauta. Ele Se deleita eterna-mente em passatempos de Amor Divino e em Sua forma sinuosa e delicada de beleza divina escura (Shyamasundar)." (Sri Brahma Samhita)

A poesia de Rupa Goswami expressa de modo tão belo o humor de separação de dentro do coração de Radharani:

kva nanda-kula-chandramah
kva sikhi-chandra-kalankrtih
kva mandra-murali-ravah
kva nu surendra-nila-dyutih
kva rasa-rasa-tandavi
kva sakhi jiva-raksausadhir
nidhir mama suhrittamah
kva tava hanta ha dhig vidhih

"Onde está a Lua que nasceu na família de Nanda? Onde está aquele que usa uma pena de pavão? Onde está o som profundo de Sua flauta? Onde está a minha safira azul brilhante? Onde esta o rasa da Dança Rasa? Onde, meu amigo, está a cura para o sofrimento em que se converteu a minha vida? Onde está o melhor amigo de meu coração? Diga-me, onde? Sem ele, amaldiçôo a vida que estou destinada a viver!" (Lalita Madhava de Rupa Goswami)

Há muitos slokas que vimos e que expressam o sentimento de separação de Radharani ou outros devotos, mas nenhum deles é como:

ayi dina-dayardra natha he
mathura-natha kadavalokyase
hridayam tvad-aloka-kataram
dayita bhramyati kim karomy aham

Discípulo: Srila Gurudeva, esse sloka é muito difícil de entender, pois parece superficialmente tão simples.

Srila Gurudeva: No Chaitanya Charitamrita, o próprio Krishna revela que a punição de suas bem-amadas rouba sua mente para longe das preces dos Vedas (priya yadi mana kari’ karaye bhartsana, veda-stuti haite hare sei mora mana). Na realidade, tudo se relaciona a este sloka (ayi dina dayardra natha). Um dia, isso será revelado, e seremos capazes de entender seu significado. Isso é bom. Mas é verdade que ainda que o próprio Kaviraja Goswami conhece o significado interno, ele não afirma, "Eu sei". Aquele que sabe jamais declara, "Eu sei o significado do sloka". E essa é a dificuldade. Na verdade, não é uma questão de saber ou não saber, ou de ser conhecido ou desconhecido. É uma questão de vida e morte!

ka-i-avarahi-am pemmam na hi hoi manuse loe
ja-i hoi kassa virahe hontammi ko jia-i

"A não ser na falsa exibição dos trapaceiros, o verdadeiro prema não pode ser encontrado num ser humano neste mundo. Para aquele que realmente tem prema, a separação resulta em morte (pralapo vyadhir unmado, moho mrityur dasa dasa)."

kaitava krsna-prema, yena jambunada-hema,
sei prema nriloke na haya
yadi haya tara yoga, na haya tabe viyoga,
viyoga haile keha na jiyaya

"Igual ao ouro dos planetas celestiais, o Krishna prema não existe na sociedade humana, somente é exibido pelos pretensiosos. Quem realmente possui amor por Krishna, não pode viver sem ele por um instante. A separação o impossibilita."

Mas Mahaprabhu ficou submerso nas profundezas do Radha-bhava na sua "sala da caldeira" (Gambhira) vinte e quatro horas ao dia pelos últimos doze anos de sua vida (dvadasavdha banhi garbha vipralambha silanam). Aqueles que possuem Krishna prema não podem viver sem Krishna, mas Mahaprabhu viveu num leito de fogo de Krishna prema durante doze anos! Isso é inconcebível.

Esta condição manifestou-se e intensificou-se gradualmente na medida em que o lila de Mahaprabhu progredia. Advaita Acharya tinha pedido a Krishna que descendesse a este mundo em Sua forma de Mahaprabhu para salvar as almas caídas. Mahaprabhu recebeu o recado de Advaita Acharya através de um poema místico de que esse desejo já tinha sido satisfeito, e que Mahaprabhu podia agora satisfazer Seu próprio desejo interior como ele quizesse (sri-radhayah pranaya-mahima kidriso vanayaiva).

O Poema Louco de Advaita Acharya:

baulake kahiha, –loka ha-ila baula
baulake kahiha, –hate na vikaya chaula
baulake kahiha, –kaye nahika aula
baulake kahiha, –iha kahiyache baula

"Diz o homem louco –todo mundo está louco,
Diz o homem louco –o varejo de arroz está ruim,
Diz o homem louco –o mercado louco está ruim,
Diz o homem louco –quem fala está louco!"

Ao recebermos um ou dois doces (sandesha), nosso coração se enche de muito júbilo. Comemos esses sandeshas com grande felicidade. Mas, ao estarmos em meio a milhares e milhares de sandeshas, perderemos todo interesse em comê-los. O significado da terceira linha "baulake kahiha, –kaye nahika aula": aquilo que ele deseja dar, a doçura divina do Krishna prema, já foi dada em abundância –não há necessidade de dar mais. Fomos mergulhados num oceano de doçura nectárea. Se estivermos rodeados por milhares de sandeshas, então ninguém comprará, nem comerá. Mahaprabhu inundou o mundo com Krishna prema através de seu nama sankirtan e então entrou no leito de fogo da separação.

Antes de Seus passatempos finais (Antya Lila), Mahaprabhu também Se encontrava no leito de fogo da separação mas, às vezes, saia dEle –ia e vinha, ia e vinha. Mas, quando recebeu a notícia de Advaita Acharya de que, "Não há mais necessidade disso", então, Ele satisfez o Seu próprio desejo e começou a saborear exclusivamente o sentimento de separação profunda de Radharani; vinte e quatro horas ao dia pelos últimos doze anos de Sua vida (radha-bhava-dyuti-suvalitam naumi krsna-svarupam).

Advaita Acharya não disse a Mahaprabhu diretamente mas falou de modo cifrado que encerrasse os Seus passatempos de nama sankirtan. Ao lhe ser perguntado, Mahaprabhu disse que Swarup Damodar sabia o significado do "Poema Louco de Advaita." Mas Swarup Damodar estava numa posição nebulosa e submeteu a Mahaprabhu: "Qual é o significado disso?" Ele sabe tudo, mas para estar duplamente seguro, ele pediu a opinião de Mahaprabhu. Mahaprabhu sugeriu que Advaita Acharya é o único que sabe o porquê dele contratar uma Deidade e depois libertá-la. Mahaprabhu disse, "Talvez esse seja o significado, eu não sei." Mas Mahaprabhu sabe, Swarup Damodar sabe, e, desse dia em diante, o estado emocional de Mahaprabhu mudou dramaticamente; Seus sentimentos de separação de Krishna começaram a duplicar em intensidade e magnitude.

Guru Maharaj compôs os slokas do Prema Dhama Deva Stotram não em um ou dois dias, mas em profunda meditação, gradualmente, ano após ano. Primeiro, Guru Maharaj compôs doze slokas. Então, ele expandiu esse –expandiu, expandiu, expandiu… Desse modo, ele gradualmente incluiu todos os passatempos de Mahaprabhu (Gaura-lila). Quando Srila Bhakti Prajñan Keshava Maharaj ouviu essa composição, ele disse: "Impossível! Ninguém pode competir com Sridhar Maharaj". Porque ele viu que Srila Guru Maharaj incluiu dentro de sua poesia a filosofia de Mahaprabhu de achintya-bhedabheda siddhanta.

Primeiro publicamos doze slokas no Gaudiya Darshan. Assim, no início eram doze slokas e depois foi crescendo, e crescendo, e crescendo, até ficar com setenta versos. Srila Guru Maharaj inseriu nele toda a Gaura-lila. Srila Guru Maharaj teve essa idéia. No Prema Dhama Deva Stotram, ele representou em plenitude o carater e os passatempos de Mahaprabhu, incluindo o "leito de fogo" da separação que caracteriza os últimos doze anos de Seus passatempos divinos.

Se uma pessoa não leu o Chaitanya Charitamrita, o Chaitanya Bhagavata, o Chaitanya Mangal, os Kadachas (notas) de Swarup Damodar, os Kadachas de Murari Gupta, não há problema. Pode simplesmente ler o Prema Dhama Deva Stotram e obter tudo.


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Depois de assim glorificar plenamente Srila Guru Maharaj, Srila Govinda Maharaj reentrou em seu sentimento profundo de separação e começou a cantar:

jaya jaya sundara nanda kumara...

abhinava kutmala guccha samujjvala kuñchita kuntala bhara, pranayi janerita vandana sahakrota churnita vara ghanasara... etc.

–do inconcebivelmente belo Gitavali no Stavamala de Rupa Goswami.

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Transcrito por Sripad Bhakti Suddhir Goswami Maharaj


fonte :

http://www.scsmathbrasil.com.br/leitodefogodaseparacao.html